Revista Violão PRO-2007.

O capixaba Jó Nunes iniciou seu trabalho como luthier aos 22 anos de idade. Estudava música com o violonista Norberto Macedo e o desejo de ter um instrumento melhor para si fez com que o músico colocasse a mão na massa. "Eu tinha um violão de fábrica; esses instrumentos são feitos com uma madeira ruim e passam pela mão de várias pessoas. Eu queria um instrumento que soasse melhor", lembra.

A experiência anterior com a madeira facilitou o trabalho. "Eu trabalhava em uma marcenaria. Além disso, eu nasci e cresci numa fazenda e meu pai tinha uma serralheria. Sempre tive intimidade com a madeira", conta. O resultado do primeiro instrumento não o agradou por completo, mas, segundo Jó, ficou melhor do que o seu violão de fábrica. "Fiz o violão baseado no de fábrica. Não ficou muito bom, mas soava melhor que o outro porque fiz com madeira boa (de mogno e com tampa de pinho)", compara.

Depois do primeiro violão, tomou gosto pela coisa e não parou mais de construir instrumentos. Durante três anos, continuou na marcenaria em que trabalhava e nas horas vagas fazia os violões e cavaquinhos. Depois, abriu sua própria oficina (na Praça XI, no Rio, onde funciona até hoje) e trocou a profissão de marceneiro pela de luthier.

Sua dedicação foi ganhando notoriedade, e conquistou clientes como os violonistas Turíbio Santos (citado como o maior violonista da atualidade no Brasil), Duda Anísio, Graça Alan, Francisco Frias, Jorge Cimas, Nélio Rodrigues, João Pedro Borges,Wagner Meirelles, Norberto Macedo, Marcus Llerena, Leandro Carvalho e outros .

Jó Nunes não guarda segredo das técnicas que aprende e desenvolve. Prova disso, são os discípulos do mestre como, por exemplo, Adriano Sampaio, que aprendeu tudo com ele. "Passo todas as informações. Uma vez um luthier me criticou dizendo que eu ia arranjar concorrentes. Eu não vejo por esse lado. Acho que o lance é ensinar para que as pessoas conheçam mais a profissão, a gente consiga ter o trabalho mais aceito e vender mais", observa.

Além de mestre, Jó é pesquisador e inovador. Em busca de aperfeiçoar ao máximo sua técnica e fazer com que o instrumento soe cada vez melhor, o luthier está sempre atrás de novas informações, além de observar muito e aprender com o próprio trabalho.
O aprendizado através de um vídeo que mostrava uma técnica desenvolvida pelo luthier australiano Greg Smallman, fez com que Jó conseguisse o resultado que procurava no som dos instrumentos que fabrica. "São treliças feitas de pequenos filetes de madeira colocadas na parte interna do instrumento. Isso dá um som muito particular no instrumento e também faz com que esse som dure mais tempo. Outro fator é que se você não colocar nada dentro, com a tensão das cordas o instrumento acaba empenando", explica. Mas, o luthier adaptou a técnica do gringo a seu gosto. "Fiz uma cópia bem fiel do instrumento do Greg Smallman, mas não gostei muito do resultado porque, apesar de ter um volume muito bom e um som bastante definido, o som ficava um pouco metálico, agressivo. Então, em cima dessa estrutura, fiz a minha versão. Com as modificações consegui um resultado um pouco melhor, um som mais doce".

Jó Nunes concretizou o sonho de separarsua oficina da comercialização dos instrumentos Jó Nunes, luthier de Turíbio Santos, entre outros grandes violonistas, inaugura a Luthier & Companhia, a primeira loja no Brasil especializada em instrumentos feitos por esses nobres artistas da madeira. Com violões, cavaquinhos e outros instrumentos de cordas, trabalhados por profissionais de diferentes partes Brasil, o local é ótima opção para os que desejam adquirir um instrumento personalizado e de extrema qualidade.

Separar sua oficina do lugar de comercialização dos instrumentos que constrói sempre foi um sonho de Jó Nunes. "Embora comentado com varias pessoas, encontrei duas pessoas que realmente acreditaram em meu projeto; essas pessoas são minha filha Danielle Nunes e Luciano Souza, sócios ativos .", justifica o luthier. Agora, o sonho tornou-se realidade e o cliente também poderá colher os frutos dessa nova fase na carreira de Jó. Bastante confortável, a loja, no centro do Rio de Janeiro (Rua Sete de Setembro, 92/406), permite que o cliente teste com calma todos os instrumentos que desejar.

Além dos violões e cavaquinhos de Jó, há instrumentos de outros luthiers como Alexander Thomaz,Sergio Mahatma,Welington Polegário,Adriano Sampaio, Romualdo Santos, Hugo Martinez e Mauricio Santos. A idéia é aumentar ainda mais esse número. "Convidamos luthieres de Minas Gerais e São Paulo. Alguns já manifestaram interesse, como o Sugimitzo Suguiyama, um dos melhores luthieres do Brasil. Outros já estão fazendo instrumentos para mandar para cá. Chamamos também o Sergio Abreu, que além de luthier é um grande violonista, e outros", garante Jó. O luthier diz ainda que qualquer profissional que desejar expor e comercializar seus produtos na loja é só entrar em contato através do e-mail: luthierecia@yahoo.com.br.

A proposta é fazer com que a loja divulgue a profissão de luthier, que os profissionais se tornem mais conhecidos e tenham cada vez mais espaço para expor seus trabalhos. Além dos instrumentos de corda e acessórios (estojos, banquinhos, palhetas, cordas, diapasão, tarrachas...), Jó também pretende colocar à disposição dos clientes discos de violonistas e música instrumental em geral. "Acho que não há, no Rio, uma loja especializada nisso.
Outro dia fui levar um alemão para comprar CDs de violonistas e só consegui um (do Rafael Rabello), numa loja na Barra. Apesar de você ver muita gente vendendo CD de mão em mão nos shows, é difícil encontrar nas lojas. Quero centralizar isso, fazer com que a loja passe a ser um lugar em que as pessoas saibam que vão encontrar esse tipo de disco", comenta Jó.

Luthier e cia:Rua 7 de Setembro, 92 - sala 406 Centro RJTelefones: (21)2242-4449 , 9816-5727. e-mails: luthierecia@yahoo.com.br ou luthierecia@luthierecia.com